26/04/2022

Por Leonardo Baldan, Mestre em Estudos do Desenvolvimento pela Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da Universidade de Londres: “As redes sociais talvez sejam a expressão mais forte dessa sociedade que decidiu abolir o emprego. Um amigo professor foi dispensado da universidade em que dava aulas e achou boa ideia dar aulas no YouTube, misturando conteúdo educativo com temas da cultura pop. Na rede social, a realidade que encontrou foi completamente diferente daquela que tinha na universidade.

Enquanto no antigo emprego ele tinha uma rotina clara que consistia, sobretudo, em preparar e dar aulas, no YouTube, por sua vez, ele operava como roteirista, operador de câmera, cenógrafo, figurinista, técnico de som, editor, profissional de marketing e professor. Um trabalho sem hora para começar e terminar que consumia todo o seu dia. Em termos de salário, do rendimento estável da universidade, ele passou a depender do número de visualização dos vídeos, que pode grande variação de um mês para o outro.

Entretanto, em sua opinião, o pior foi perder a independência acadêmica para produzir conteúdo que agradasse o consumidor do YouTube. Um público que podia a qualquer momento abandonar seu vídeo para ver um jovem influencer dinamarquês mergulhar numa banheira de Nutella. Em resumo, ele trabalhava mais e suas aulas chegavam a milhares de pessoas, bem diferente dos 60 alunos de uma classe universitária, mas recebia menos — e se sentia menos feliz. No fim, desistiu desse trabalho e foi procurar um emprego.

Outras Palavras; 30/03
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