25/10/2022

Aliado do presidente atira e joga granadas em policiais que tentavam prendê-lo. O ‘Nexo’ conversou com um cientista político e um historiador sobre as parcelas mais radicalizadas do bolsonarismo.

Desde 2020, Roberto Jefferson xinga ministros do Supremo e defende ações armadas em nome da “liberdade”, expondo a face mais radicalizada do bolsonarismo, um movimento de extrema direita estimulado pelos discursos do presidente Jair Bolsonaro. Em 2021, o ex-deputado e ex-presidente do PTB foi preso — e depois mandado para prisão domiciliar — por insuflar violência contra ministros da mais alta corte do país.

No domingo (23), Jefferson colocou em prática aquilo que já vinha sugerindo que faria: atirou de fuzil e lançou granadas em policiais federais que foram até sua casa, na cidade de Comendador Levy Gasparian, no interior do Rio de Janeiro, a fim de levá-lo para a cadeia por causa da reincidência de ataques ao Judiciário. O caso expõe o extremismo brasileiro que veio à tona com a chegada de Bolsonaro ao poder e segue uma escalada desde então.

O que veio antes dos tiros e granadas – Na sexta-feira (21) a ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) havia solicitado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a revogação da prisão domiciliar e a decretação da prisão preventiva de Roberto Jefferson, após a publicação de um vídeo feito por Jefferson xingando a ministra Cármen Lúcia e chamando o Tribunal Superior Eleitoral de “latrina”.

Na gravação ele compara a ministra com “prostitutas”, “arrombadas” e “vagabundas”. O vídeo foi publicado nas redes sociais da filha do ex-deputado, já que ele está impedido de usar seus perfis por determinação de Moraes.

O extremismo brasileiro no bolsonarismo – Para Odilon Caldeira Neto – professor de história contemporânea da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita –, Roberto Jefferson “assumiu um ponto de referência para as tendências mais radicais do bolsonarismo”. Ou seja, ele se tornou um foco de mobilização entre determinados setores mais radicais do bolsonarismo.

Mas esse papel já foi cumprido por outras pessoas – Caldeira Neto citou, por exemplo, os blogueiros bolsonaristas Oswaldo Eustáquio e Allan dos Santos, o caminhoneiro Zé do Trovão e o próprio ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

“Essas figuras que fazem a ligação entre o núcleo duro do bolsonarismo e as bases são cotidianamente colocadas como ‘bucha de canhão’ do processo de radicalização constante, depois são largadas no mar. Mas o processo continua. E em crescente”, disse o professor ao Nexo.

O impacto das ações de Jefferson – Para Caldeira Neto, do Observatório da Extrema Direita, o caso de Jefferson “diz respeito a essa necessidade de uma mobilização e de uma pulsão constante dessas possibilidades de rupturas institucionais pelo próprio bolsonarismo e pelo núcleo duro da campanha de Bolsonaro”.

O professor da UFJF falou sobre como essa mobilização pavimenta um caminho para uma ação de contestação das eleições presidenciais, cujo segundo turno está marcado para 30 de outubro. Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto do segundo turno.

Nesse sentido, o pesquisador entende que a moderação do discurso de Bolsonaro visando o segundo turno das eleições não significa que não haja risco institucional. “Depois das eleições, já não temos uma evidência disso [moderação]. Uma importante característica do bolsonarismo e do governo Bolsonaro é sua imprevisibilidade”.

Nexo, 24/10
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