19/08/2020

Os adultos fazem parte da família escolar: professores, funcionários, fornecedores, além dos parentes e perueiros que os levam e buscam os alunos. Sua proteção deve prevalecer sobre a carência dos filhos.

por Luiz Weis

Oito em cada 10 pessoas entrevistadas pelo Datafolha se opõem à reabertura das escolas pelos próximos dois meses. (Entre os que consideram o governo ruim ou péssimo, o índice chega a 89%.)

Taí uma boa notícia.

Weis: solidariedade humana

Há pouco, o escritor e crítico literário Julian Fuks, citando publicações científicas estrangeiras, argumentou no site Ecoa que “as crianças se contagiam menos e com menor gravidade, também infectam menos e, portanto, não são tão vulneráveis, nem os terríveis agentes de contágio que supúnhamos que fossem”.

Pura verdade, mas o problema – que ele ignora – é outro. Trata-se dos adultos que fazem parte da família escolar: professores, funcionários, fornecedores, além dos parentes e perueiros que os levam e buscam os alunos.

Todo aquele pessoal das equipes escolares trabalha em estreita proximidade. Isso faz delas – apesar do uso de máscaras em tempo integral e da higiene das mãos, por mais frequente que seja – granadas virais prontas a se explodir umas às outras, propagando a pandemia.

Ninguém há de contestar que, para as crianças, a escola não é apenas um lugar onde aprendem coisas de maneira organizada e sistemática.

É também fonte de socialização e espaço de desenvolvimento afetivo – daí o seu mal-estar quando confinadas em casa, com aulas a distância, que pode se expressar em irritabilidade, tristeza, introversão ou súbitas mudanças de humor.

Ainda assim, não se trata para os seus pais de uma “escolha de Sofia”, em que nenhuma alternativa é aceitável. Bastam os sentimentos básicos de decência e solidariedade humana para fazê-las perceber que a proteção dos adultos da comunidade escolar deve prevalecer sobre a carência dos filhos – que, um dia, será uma história para contar aos seus próprios.

 

Luiz Weis é jornalista e pós-graduado em Ciências Sociais pela USP, onde lecionou Sociologia da Comunicação