23/02/2022

Fragmento de pedra sob a guarda do Museu Britânico lista nomes e razões de ausência ao longo de 280 dias no período de Ramessés 2º

Em 1823, o Museu Britânico, em Londres, tomou posse de um fragmento de pedra do Egito Antigo que contém registros sobre a rotina de trabalho de cerca de 3.000 anos atrás. A tábua expõe as explicações utilizadas pelos cidadãos da época para justificar as faltas em seus trabalhos.

Esse tipo de fragmento onde as anotações foram encontradas é conhecido como óstraco. São pedaços de cerâmica ou rochas, em que diversos tipos de escritos — como mensagens, registros oficiais, avisos etc. — eram gravados em sua superfície.

Pertencentes ao período do faraó Ramessés 2º, os registros trabalhistas do Egito Antigo foram feitos sob rocha de calcário medindo 38 centímetros de altura e 33 centímetros de largura. Nela, cerca de 280 dias de um ano estão documentados em 24 linhas, na frente e no verso do objeto, com o sistema de escrita hierático, uma versão mais simplificada do sistema hieroglífico.

Por volta de 40 nomes estão listados do lado esquerdo do óstraco, enquanto do lado direito estão posicionadas algumas datas, todas em tinta preta. Acima delas, com tinta vermelha, estão localizadas palavras ou frases completas em vermelho com as justificativas para a ausência no trabalho.

Huynefer, um dos trabalhadores listados nas gravações do óstraco, não compareceu a seu serviço por estar “sofrendo com o olho”. Seba, por sua vez, foi picado por um escorpião. Outros não apareceram porque iriam embalsamar e embrulhar seus parentes falecidos, prática comum no Egito Antigo.

Algumas das explicações podem parecer incomuns para os tempos atuais. Uma parcela de trabalhadores não foi trabalhar porque as mulheres de sua residência estavam no período menstrual, o que obrigava os homens a assumirem as tarefas domésticas sem poder comparecer aos seus empregos.

Uma grande parte dos citados alegou estar ocupada “fazendo cerveja”. Na época, além de a cerveja ser considerada uma bebida fortificante e estimulante de consumo diário, também era um culto à deusa egípcia Hathor. Por isso, faltar ao trabalho por esse motivo talvez fosse totalmente aceitável.

Atualmente, a peça pode ser visualizada no catálogo online da instituição (aqui).

Nexo; 22/02
https://bit.ly/3LWfTn8