24/05/2021

“Quando o português chegou/Debaixo de uma bruta chuva/Vestiu o índio/Que pena!/Fosse uma manhã de sol/O índio tinha despido/O português.”

Erro de Português, o já gasto poema de Oswald de Andrade, é talvez a única visão dissonante que as escolas costumam oferecer a respeito do desembarque dos portugueses no Brasil. De resto, o que se aprende sobre a relação entre colonizadores e índios é a narrativa da “descoberta” e a glorificação de personagens que hoje nomeiam ruas, estradas, praças, instituições: José de Anchieta, Mem de Sá, Estácio de Sá, Manuel da Nóbrega. O livro Guerras da Conquista, de Felipe Milanez e Fabricio Lyrio Santos, oferece uma visão que rompe com a historiografia escolar, desmistificando muitos desses heróis nacionais.

O livro faz parte da série Guerras do Brasil, publicada pela editora HarperCollins e originada na série documental homônima da Netflix.

A obra traça um panorama extenso dos principais conflitos travados entre os europeus e os povos originários do Brasil, colocando em xeque a ideia de que havia algum tipo de supremacia militar por parte dos portugueses e mostrando como a formação de alianças com lideranças locais e o estímulo de rivalidades já existentes entre tribos foram estratégias fundamentais para a conquista do território.

A obra inclui a transcrição de uma entrevista com o intelectual indígena Ailton Krenak, que oferece um ponto de vista diverso da visão laudatória dos colonizadores: “Quando os brancos chegaram, foram admitidos como mais um na diferença. E, se os brancos tivessem educação, poderiam ter continuado a viver aqui no meio daqueles povos e produzido outro tipo de experiência”.

Leia, no link, a entrevista com os autores Felipe Milanez e Fabricio Lyrio Santos.

Estadão; 22/05
https://bit.ly/34pMjlP